quinta-feira, 29 de maio de 2008

Huguet

(2º Arquitecto do Mosteiro da Batalha)

De onde vim?
A História esconde
a minha nacionalidade
e a minha própria identidade
é nebulosa.
Com outros, concebi
a obra mais assombrosa
do reino a que me acolhi.
Fui eu que ergui
a prodigiosa abóbada
e, a prová-lo,
nela deixei
as nervuras com que assinalei
tudo o que construí.
Se sou estrangeiro
pelo país onde nasci,
morri português
porque foi Portugal que escolhi
e, durante toda uma vida,
de corpo inteiro
servi.


Na realidade, foi toda uma vida dedicada ao Mosteiro de Santa Maria da Vitória. Pelo menos desde 1402 até 1438, ano da sua morte, Huguet dirigiu as obras do Mosteiro. De onde veio não se sabe. Talvez da Inglaterra ou da França ou da Catalunha, sendo esta a origem mais prová­vel tanto por este apelido existir nessa nação hispânica como pela aproxi­mação que fez do gótico ao Mediterrâneo. Nunca se conseguiu apurar se o nome próprio era David e o seu apelido aparece grafado de diversas formas.
Sob a sua direcção, construíram-se a capela-mor, o transepto e a nave cen­tral da igreja, dois lanços do claustro real (Norte e Oeste), a Capela do Fundador e iniciaram-se as Capelas Imperfeitas por encomenda de el-rei D. Duarte I. Foi Huguet que acabou a celebrada abóbada da Casa do Capítulo, como se pode ver pelas nervuras: as dele esquinadas, as de Afonso Domingues­ redondas.
Morreu na Batalha, tendo sido sepultado na igreja de Santa Maria-a-Velha, que foi o primeiro templo da povoação e existia no terreiro a Leste e curta distância do Mosteiro. Esta igreja foi destruída no século XX, a nave em 1931 e a capela-mor à volta de 1965, num atentado indesculpável contra o património histórico e contra a memória dos mestres nela sepulta­dos, continuando a aguardar-se, como reparação do que se fez, que o seu es­paço sagrado seja devidamente assinalado e resguardado. Aí deveria erguer­-se um monumento aos arquitectos quatrocentistas e quinhentistas, vários sepultados no local, que ergueram um património em Portugal hoje, na maior parte, classificado como da Humanidade.

José Travaços Santos

Sem comentários: