quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Memórias - Material Escolar

Como todos os da minha idade se lembram, as primeiras letras do abecedário foram escritas naquela pedra preta, com um ponteiro que trazia um papelinho enrolado ao meio. Tudo isto era comprado na mercearia do senhor Manuel Patrício.
O ponteiro partia-se com muita facilidade, depressa ficava em dois. E o barulho que estes faziam ao escrever na pedra… parece que ainda hoje o ouço.
As pedras tinham um caixilho de madeira, que tinha de ser lavado ao fim-de-semana, sempre com muito jeito, pois convinha que a pedra durasse pelo menos o ano inteiro.
Passados uns dois meses do início das aulas, lá exigia a professora, para além da pedra e do ponteiro, um caderno de duas linhas, um lápis e uma borracha. Ficávamos todos contentes com o caderninho novo e aquele lápis – que até nos ia ajudar, pois tinha a tabuada escrita nele. Mal adivinhávamos o sacrifício que estes novos materiais nos iam trazer. O pior era a nossa pouca habilidade para escrever dentro das duas linhas. Lá íamos escrevendo as letras, umas gigantes, outras minúsculas, que íamos mostrando à professora. Umas vezes estavam bem, outras vezes tínhamos de apagar e começar tudo de novo. Depois, só para piorar, a borracha não apagava nada bem e o caderno ficava feio e até sujo. Se nessa altura a professora passasse pela nossa carteira e visse esse trabalho, dava-nos com a régua em cima dos dedos, o que nos fazia corar com vergonha dos colegas e até mesmo chorar com as dores.
Estava sempre deserta para mudar a página do caderno, mas tinha de completar todas linhas até ao fim. Tinha de mostrar o caderno ao meu pai todo preenchido, só depois recebia outro. Era o meu pai que se responsabilizava por nos comprar os cadernos e lápis. Ainda me lembro dos cadernos bem grossos, chamávamos-lhes os cadernos diários.
Os livros passavam dos irmãos mais velhos para os irmãos mais novos, e os livros que não tínhamos, o meu pai solicitava-os ao Sindicato Escolar. Nunca vinham livros novos, por vezes vinham bastante usados e com falta de páginas. O meu pai encapava-os com o chamado papel de ferro. Para mim e para as minhas irmãs, o papel era cor-de-rosa e, para os meus irmãos, era azul. Nestas coisas, o meu pai era muito organizado e atencioso.
Até breve.
Filomena Monteiro

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