No meio da agitação da vida, do lufa-lufa diário para preencher a agenda dos dias úteis e inúteis, nem sempre conseguimos parar dois segundos para olhar as coisas verdadeiramente importantes. Às vezes, coisas tão simples como o sorriso dos nossos filhos a brincar, ou uma flor de brotou cheia de novas cores num canteiro abandonado do jardim lá de casa. Outras vezes, coisas importantes como a nossa saúde que definha a cada camada de stress a acumular, ou uma mão estendida na porta da casa ao lado a pedir sobrevivência.
Percebemos que a sociedade está doente, quando os grandes acontecimentos atingem a nossa rotina. Um grupo de camionistas que faz parar o País e ameaça fazer-nos parar também, por falta de combustível para a corrida do dia-a-dia. Mas não prestamos atenção aos pequenos sinais dessa atrofia social, que empurra uns para a competição sem regras e deixa outros abandonados na sombra dos dias tristes e solitários.
Felizmente, há quem veja para além do óbvio e consiga dar um passo mais lento para acompanhar quem vem mais atrás. Chama-se a isso solidariedade, tanto mais valiosa quanto mais próximo é o rosto que se acaricia.
Vem isto a propósito do gesto que destacamos nesta edição: um grupo de senhoras – curioso serem só senhoras – lembrou-se de ir festejar com o Pedro os seus 33 anos. Jovem paraplégico, sem movimentos capazes de acompanhar o ritmo da nossa caminhada, estava condenado a passar este dia sozinho, sem um abraço nem uma voz a cantar-lhe os parabéns, para além da mãe que o ampara. Com este gesto, teve a casa cheia e um presente que valeu sobretudo pelos presentes – as pessoas.
Vieram timidamente per-guntar se o Jornal podia publicar num cantinho essa festa e se era preciso pagar alguma coisa.
A resposta está no lugar de primeira página que lhe oferecemos, porque no meio de todas as mil-e-uma actividades que todos vivemos, essa é a notícia mais importante deste mês. A que verdadeiramente nos deve interessar.
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