segunda-feira, 12 de março de 2012

Batalha: Conferência "Sexualidade na Adolescência" com Marta Crawford



A Associação de Pais e Encarregados de Educação do Agrupamento de Escolas da Batalha organizou, no passado dia 9 de Março, no auditório municipal da Batalha, um colóquio subordinado ao tema "Um Problema de Expressão… a sexualidade na adolescência", integrado no projecto "Projecto Saúde e Sexualidade" do Agrupamento. O auditório esteve completamente lotado, com uma assistência muito interessada de pais, encarregados de educação, professores e profissionais que se relacionam com os adolescentes.

Por uma boa saúde mental
O primeiro orador foi o psicólogo Jaime Grácio, natural da Batalha e actualmente ligado à Clínica Psiquiátrica de S. José e membro do Departamento de Saúde Mental da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.
Partindo da sua área de especialização, Jaime Grácio começou por traçar o quadro das doenças psiquiátricas mais frequentes actualmente, em que a depressão tem um lugar de destaque, atingindo já mais de 16% da população entre os 15 e os 44 anos. Sendo uma doença que afecta também a saúde física, este "stress das sociedades modernas" tem tendência a aumentar no futuro, potenciado por factores como a pobreza ou a baixa escolaridade, pelo que a "actual crise é mais um factor de risco".
Em ligação ao tema em debate, o especialista salientou a importância da família na prevenção e cura destas doenças psico-somáticas, pois é no seio familiar que as crianças e os adolescentes formam a sua personalidade, um papel depois alargado aos grupos onde se integram e à comunidade onde vivem. No caso concreto, "a forma como os pais falam com os filhos sobre sexualidade vai afectar a saúde mental deles", alertou. Daí a importância de se adoptar um "estilo educativo competente", em que os pais "dizem aos filhos o que querem e negoceiam com afecto positivo o modo de os controlar", evitando o excesso, quer dos pais autoritários (ou são frios e punitivos, ou calorosos mas com exigências irrealistas), quer dos pais permissivos (ou desinteressados da vida dos filhos, ou que fazem tudo o que eles querem).

Informação gradual
Num segundo momento, coube à psicóloga clínica, Ana Paula Pimentel, especializada em Terapias de Orientação Cognitiva e Comportamental pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, explicar como desenvolve a sexualidade, desde a primeira infância.
A adolescência é caracterizada por "grandes alterações" que trazem aos pais as maiores dificuldades em tratar este assunto com os filhos. "Não existe o momento ideal nem a resposta perfeita", sublinhou a oradora, adiantando que "os pais devem ir falando do assunto com normalidade, conforme as perguntas que os filhos vão fazendo, procurando sempre dizer a verdade, sem tabus e admitindo que não sabem tudo".
Neste processo, é importante "dar informações aos filhos e explicar-lhe como usar essa informação, tornando-os responsáveis pelas suas opções", por exemplo quanto à prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Ana Pimentel defendeu que "os pais devem promover a auto-estima dos filhos, saberem dizer-lhes ‘não’ e mostrarem-lhes que podem sempre contar com a sua ajuda e compreensão".

Prazer e responsabilidade
A convidada especial para esta sessão dispensaria grandes apresentações, dada a notoriedade adquirida nos programas televisivos AB Sexo (TVI), Factor M (RTP1) e Aqui Há Sexo (TVI24), bem como em livros publicados ou nas várias colunas que assina na comunicação social. Mas é o seu vasto currículo que sustenta e justifica as luzes da ribalta. Licenciada em Psicologia Clínica pelo Instituto Superior de Psicologia Aplicada, Marta Crawford especializou-se em Sexologia Clínica pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, é terapeuta sexual credenciada pela Sociedade Portuguesa de Sexologia Clínica, terapeuta familiar pela Sociedade Portuguesa de Terapia Familiar, professora na Universidade Lusófona e conferencista, entre muitas outras actividades.
Na Batalha, não deixou os seus créditos por mãos alheias e conquistou os ouvintes com um discurso claro, simples e directo. Começando por referir problemas como "crenças, tabus, má informação e falta de tempo" que inquinam a conversa entre pais e filhos sobre a sexualidade, Marta Crawford apontou para a necessidade de "disponibilidade mental, de tempo para estar com eles e boa capacidade para os ouvir".
Partindo da experiência nas suas consultas, a psicóloga revelou quais as questões que mais inquietam os pais, no topo das quais está a da idade recomendada para o início da vida sexual dos filhos. "Quanto mais crescidos, melhor, pois terão mais capacidade para tomar decisões responsáveis; os pais devem ensinar aos filhos que o prazer e a responsabilidade devem andar de mãos dadas", defendeu, afirmando a necessidade de educar para os valores como o amor e o compromisso, que as novas gerações parecem estar a perder.
Tanto nesta como noutras questões, "é fundamental ser capaz de falar da sua própria intimidade sexual, verbalizar as emoções, falar descontraidamente e à-vontade, pois a educação para os afectos começa em casa". Depois da família é que surge a escola, os terapeutas, os amigos, etc., sendo fundamental "os vários agentes educativos trabalharem em rede, procurando fazer caminho juntos". E esse à-vontade foi demonstrado pela oradora na sua própria exposição aos pais, "protegendo" uma garrafa de água enquanto falava da importância de falar abertamente com os filhos sobre temas como contraceptivos, relações sexuais ou relacionamentos afectivos.
Em resumo, não há um paradigma único, nem há "soluções mágicas", pois há muitas questões a considerar, variantes culturais, morais, etc., pelo que o segredo é tentar fazer o melhor que se sabe, falar sempre a verdade, não dramatizar os problemas nem facilitar nas exigências, ter consciência do dever de educadores dos filhos e procurar ajuda quando necessário.
No final desta sessão, embora as questões continuem a ser muitas, como se verificou no debate que se prolongou para lá da meia-noite, os pais terão ficado, pelo menos, mais conscientes da dificuldade e da importância da sua missão de educadores.

Luís Miguel Ferraz


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