Como referi no último artigo, o desenvolvimento da viticultura no mundo é para nós, portugueses, uma oportunidade que devemos assumir. Portugal, apesar de ser um país pequeno, no que concerne à agricultura tem enormes potencialidades para o desenvolvimento da vitivinicultura, à escala mundial, pois é um país com uma biodiversidade muito rica, com microclimas variados, solos diversificados, encostas de belezas únicas, com planícies escaldantes, neste mar Atlântico.
A provar tudo isto estão as diversas regiões vinícolas e sub-regiões, com maior ou menor área, a serem premiadas e com classificações de primeira, em todo o mundo. Por isso, dizemos que, aliando as condições edáfico-climáticas do país com a escolha criteriosa dos porta-enxertos (de que falámos no artigo anterior) e agora também com as castas, devidamente seleccionadas e certificadas, afirmamos com certeza que "o bom vinho se faz na vinha". E não podemos esquecer a ajuda de profissionais de renome, os "enófilos", com credenciais já firmadas.
Foi no entanto necessário que as plantas de qualidade à disposição dos viticultores contassem com a ajuda prestimosa dos geneticistas. Isto devido, em parte, ao grande ataque de filoxera, um pulgão que grassou nos EUA, em finais do séc. XVII, e que atingiu a Europa em meados do séc. XVIII. As videiras da altura eram plantadas directamente no terreno: bastava cortar uma parte da planta e plantá-la directamente no solo, com ou sem raiz, o chamado "pé-franco". Mas o homem, estudioso como é, pensou em unir uma planta americana, que não é resistente à filoxera (um insecto com cerca de 3 mm, que pica e suga a planta), com uma planta europeia.
Devido a esta praga, a reprodução em videiras foi totalmente alterada, com a introdução da enxertia, que é a união de uma planta americana com uma parte de uma planta europeia, isto é, juntar ou soldar duas plantas fisiologicamente idênticas. A parte da planta provida de raízes, que recebe por enxertia a outra planta, tem o nome de "porta-enxerto", ou "cavalo"; a outra parte da planta que vai soldar na planta com raízes denomina-se "garfo" ou "cavaleiro".
Ora, esta prática da enxertia teve tal êxito, que as produções são agora devidamente controladas, para obtermos vinhos de alta qualidade. Até se pode recorrer à re-enxertia, para substituir uma casta por outra, caso a casta em questão não esteja a corresponder ao pretendido, como por exemplo, às alterações do mercado consumidor de vinhos, ou também no caso, para as uvas de mesa.
A re-enxertia, como o próprio nome indica, quer dizer que na mesma planta já houve uma enxertia inicial.
Como espero, os leitores amantes da natureza irão verificar que realmente a vinha e o vinho são responsáveis por uma das actividades mais enriquecedoras do prazer humano...
José Jordão Cruz
Eng. Técnico Agrário
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